domingo, 21 de outubro de 2012

Bom dia :x

— Alice! Você não pode fazer isso comigo assim, cara… Você tá se precipitando. Conversa comigo? Por favor? Alice! Não aja como se não estivesse me ouvindo! 
Olhei em volta. Recomecei a gritar. 
— Nem tem pedras aqui pra eu poder atirar na sua janela. Aliceeeeeeee! Tá frio aqui! Eu posso pegar gripe… 
A porta do quarto dela se abriu e ela finalmente veio pra varanda. Encostou os cotovelos na proteção 
— Alice. Graças a Deus. Desce aqui. 
— Não. Vai embora. E deixa de ser uma menina chorona, Pietro. 
— Ir embora? Você terminou comigo por SMS, cara. Não podia nem ter me ligado? — minha voz soou muito constrangedora, como se eu tivesse prestes a chorar. 
Uma risada irônica. 
— Não, pera, terminar o quê? Beijei você umas vezes e você considerou isso como se a gente tivesse casado ou sei lá? 
— A gente pode, podia não estar namorando, mas que tinha alguma coisa… Tinha. Você vai ser a maior mentirosa do mundo se negar isso. Ou pra você o fato da gente passar noites acordados só conversando, e olha que só conversar na cama com uma menina pra mim é um grande passo, e da sua barriga agitar… Porque eu sei que a minha agitava… Quando eu te falava alguma coisa bonitinha, e isso da minha mão sempre dar um jeito de ir parar na tua não significa nada? Tinha alguma coisa. Tem alguma coisa. 
Esperei que isso tivesse quebrado ela no meio, ou pelo menos deixasse sem reação por alguns minutos, mas a resposta veio em uma voz fria e calculada que fez parecer que aquilo tinha sido ensaiado da parte dela. 
— Não tô dizendo que a gente não tinha nada, mas também não é como se tivesse alguma coisa. Mas esse é o problema. Não vou continuar tendo uma meia-coisa com você. Não é suficiente pra mim. Noites conversando, beijinhos e mãos bobas pelo corredor do colégio, você sendo conquistador? Eu gosto, demais até, mas não é o bastante… 
— Você é suficiente pra você, Alice. Nenhum cara pode melhorar isso. Nem eu. Qualquer um que estivesse contigo seria só um acessório. Olha, eu não quero ser a tua vida, só quero ser uma parte dela… Não quero seu mundo girando ao meu redor, só quero fazer o giro dele ser mais feliz. Por favor? 
— Desculpa, Pietro… A gente nunca devia ter começado com isso. 
— Não diz isso… 
Ela se virou e ia entrando, mas parou com a mão na porta e não olhou pra trás, só falou em voz mais baixa: 
— Não vou ficar aqui discutindo com você uma relação que nem sequer existe e que se existisse, não levaria a nada. 
E foi. Quis pensar em algo inteligente, bonito ou até mesmo engraçado pra falar, mas só fiquei ali encarando meus próprios tênis por uns 3 minutos, com um nó do tamanho do mundo na garganta e me sentindo uma criança mimada de cinco anos que não ganha o que quer e descobre que nem todo mundo faz as suas vontades. Mas voltei a falar, apesar de me sentir metade derrotado e metade imbecil, com a voz saindo entrecortada dessa vez. 
— Sei que você talvez nem esteja mais me ouvindo… Acho que já deve até ter voltado pro seu iPod e pro seu gosto musical que eu adoro. Mas eu também sei que quando você me fala essas coisas, você não quer dizer isso mesmo. É só que você tem um jeito diferente de lidar com o que te assusta… Tem gente que chora, gente que se corta, você desconta nos outros e fala coisas cruéis. Não sei se você quer que eu vá atrás de ti, ou que eu te deixe em paz sem questionar, mas essa noite eu simplesmente me recuso a perder meu sono imaginando que poderia ter sido diferente se eu te tivesse te falado. É só que eu sei, tá? Sei que gostar de alguém dá um medo filho de puta. Mas sei que não tô disposto a deixar meu medo ser maior do que a minha vontade… De você. Suas amigas, minhas exs, o futuro… Isso dá pra esperar. Mas passa a madrugada comigo, por favor? Tá frio, e isso aumenta a minha vontade. Me chuta amanhã? 
Um minuto. Dois… Que pareceram duas horas. 
Sentei na entrada da casa, encostei os cotovelos nos joelhos e enterrei o rosto nos meus braços. 
— Que droga, Alice — murmurei baixinho. 
Então eu ouvi o barulho da porta da frente abrindo. 

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